Em qualquer ambiente organizacional, as pessoas jogam jogos políticos. Saiba como evitá-los.
Mauricio Goldstein e Phil Read
Em qualquer ambiente organizacional, as pessoas jogam jogos políticos. Está em nossa natureza jogar quando estamos em grupo, quando há estresse e ansiedade e quando existem “prêmios” a serem conquistados (promoções, favor do chefe, o financiamento para um projeto, um novo contrato e assim por diante).
Mas os jogos políticos podem causar danos consideráveis às organizações. Eles impedem a aprendizagem, pioram o clima, diminuem a disposição para assumir riscos e formam uma barreira à mudança, afetando os principais processos de gestão. Seu principal efeito negativo é que eles são uma forma de desperdício. Medimos desperdício em fábricas em um nível detalhado, e tomamos medidas específicas para reduzir isso. No entanto, não existem boas estatísticas sobre “gestão de desperdício”, como resultado de jogos políticos. O tipo mais fácil de desperdício a considerar no que diz respeito aos jogos é simplesmente quanto tempo se perde.
Para identificar como lidamos com esse desperdício e o que podemos fazer para liberar energia nas organizações, fomos procurar compreender o real impacto e as principais causas para os jogos políticos.
Tempo perdido
Uma pesquisa com mais de 700 pessoas revelou quanta energia (e neste caso usamos tempo como medida) estava sendo gasta com jogos políticos, que poderia ser liberada para outras atividades (veja abaixo). Para nossa surpresa, os entrevistados disseram que, em média, 33% do tempo das pessoas é utilizado para jogos políticos. Para 20% dos entrevistados, na sua empresa, gasta-se mais de 50% do tempo com eles.
Estes resultados nos apresentam uma oportunidade importante de ganho de produtividade e aumento da criatividade, em tempos em que o excesso de atividades (ou a falta de tempo) parece ser um dos principais problemas.
Na etapa seguinte, ficamos interessados nos fatores que mais encorajam estes jogos políticos nas empresas (ver página seguinte) e descobrimos que o clima de desconfiança é o fator que mais favorece a manipulação dentro de uma empresa (35% das respostas).
Antídoto natural
O movimento mais importante para liberar energia e tempo em sua organização portanto, é desenvolver uma cultura aberta, de cooperação e diálogo – antídoto natural para o excesso de jogos políticos. Esta nova cultura vai resultar num aumento de confiança, protagonismo, flexibilidade e criatividade. Mas como um líder deve construir esta cultura?
• Incentive que todos os colaboradores foquem sua atenção e seu trabalho nos clien-tes e no mercado (um foco externo), em vez de colocarem sua prioridade nos stakehol-ders internos — o foco interno cria um terreno fértil para jogos políticos. Faça suas reuniões, publicações corporativas e suas próprias mensagens refletirem esta direção.
• Ouça de forma eficaz as diferentes “vozes” dentro da organização — especial-mente aquelas que não estão dizendo exatamente o que você quer ouvir. Recompense pessoas que desafiam o consenso interno e estimule o conflito de forma objetiva e pensada. Especialmente ouça e aprecie discussões profundamente corajosas sobre as falhas e o que podemos aprender com elas. Esses comportamentos evitam um pensamento único e a falta de informação que podem gerar uma “monocultura”, tabus e uma tomada de decisão.
• Incentive a conversa em toda a organização — através de redes, cruzando funções e processos —, e não apenas “para cima e para baixo” na organização. Garanta que as equipes sejam criadas com uma composição e mandatos de várias partes da organização. Esta é a melhor maneira de criar significado comum, coordenar as ações e evitar silos e o “apontar de dedos” que inevitavelmente vem com isso.
• Desempenho é muito importante — mas certifique-se de que haja equilíbrio entre o curto e o longo prazos e que o clima que você transmite é de um senso de urgência pela importância de seus produtos e de sua qualidade para o mercado (e não de um sentimento de ansiedade e preocupação que torna as pessoas defensivas).
• Construa um ambiente de trabalho mais humano — mais conversas, menos
e-mails, mais estilos “pessoais” de comunicação, mais apreciativo e cuidadoso; e transmita mais confiança no potencial intrínseco de cada pessoa, desafiando-a constantemente a produzir um trabalho excelente e focando em seu desenvolvimento emocional e espiritual e em sua autonomia.
e-mails, mais estilos “pessoais” de comunicação, mais apreciativo e cuidadoso; e transmita mais confiança no potencial intrínseco de cada pessoa, desafiando-a constantemente a produzir um trabalho excelente e focando em seu desenvolvimento emocional e espiritual e em sua autonomia.
• Identifique as questões relevantes para a evolução de toda a organização e favoreça a formação de equipes multifuncionais e multiníveis para buscar soluções e executá-las em conjunto.
• Repense a sua organização — ela parte de um ecossistema maior, interconectado, com colaboradores, clientes, fornecedores, comunidades, meio ambiente, etc. —, criando valor para todos os stakeholders.
• Enfim, modele os comportamentos que você quer ver e promova as pessoas que estão praticando estes comportamentos também — este é sempre o símbolo mais poderoso em uma organização. Alinhe processos, recompensas e rituais para isto.
Jogos políticos servem a nós mesmos, mas destroem valor e um senso de propósito em nossas organizações. Uma liderança corajosa serve aos outros — incluindo clientes e colaboradores — e transforma as organizações em prol de uma sociedade melhor.
* A pesquisa foi elaborada com mais de 700 pessoas em eventos do Conarh, HSM, Congresso 6 Sigma e Simpósio Ciclo —Demand & Supply Chain.
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Artigo gentilmente cedido pela Revista Harvard Business Review Brasil (http://www.hbrbr.com.br).
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