Congresso 2015

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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sem ir por água abaixo




O líder que sabe inspirar ajuda a equipe a nadar contra a maré, a tirar proveito das situações de conflito e a superar obstáculos


Marina de Mazi*



Você e dois amigos descem um rio numa canoa a remo. Eis que a correnteza começa a ficar mais forte e a puxá-los para uma queda d'água, mesmo depois que vocês passam a remar no sentido contrário. Qual sua reação? Tenta remar ainda mais forte e de forma coordenada com os amigos, reza por um milagre ou amaldiçoa quem teve a ideia de fazer esse passeio?
Se você, com energia, estimula todos a lutar por um objetivo comum de forma coordenada, está exercendo o papel de um líder - ainda que ocasionalmente - e, provavelmente, alcançará o resultado desejado, ou seja, escapar da queda. Nada impede que você também reze ou resmungue enquanto reme, mas só sobreviverá se o grupo enfrentar a situação, em vez de cair no desânimo, na raiva ou numa esperançosa passividade. O que muda a situação é a ação motivada pela atitude de visualizar o resultado e mobilizar a equipe.


Superar obstáculos
Essa reflexão está relacionada ao que chamamos de resiliência. Embora seja um termo muito citado ultimamente, vale lembrar: segundo a física, é a propriedade de um material retomar sua forma original depois de deformado. Na nossa concepção, de management, significa superar obstáculos, com resultados satisfatórios e menor gasto de energia - como na psicologia -, porém nunca voltando à sua forma original, pois, se isso acontecer, significa que o sujeito não aprendeu com a dificuldade que enfrentou. Ou seja, é desejável que o formato original não permaneça. Em outras palavras, resiliência é a arte de transformar um problema em uma solução criativa e aprender com a experiência.
Uma das diferenças entre profissionais de sucesso e os que fracassam em seus objetivos é a forma de lidar com as adversidades. O sucesso liga-se diretamente à capacidade de enfrentar, processar e solucionar dificuldades que surgem inesperadamente na carreira ou na vida pessoal. Uma pessoa pode ser brilhante no que faz e até exercer controle sobre suas emoções, mas se não tiver resiliência para enfrentar a frustração, os "nãos" e as broncas, os cortes de orçamento, as reclamações dos clientes, os conflitos, a demissão, as exigências dos acionistas e tantos outros obstáculos que fazem parte da vida, certamente terá menos chances de conseguir bons resultados.
Se, nessa mesma situação, o indivíduo ainda continua entusiasmado e focado nos resultados, mesmo com a consciência e a dor dos momentos difíceis, isso sim é que diferencia os profissionais de sucesso: uma grande competência de lidar com as adversidades. Quando trabalhamos com processos de transformação cultural, líderes e equipes se envolvem e se comprometem com as mudanças necessárias. Entretanto, mudar dá trabalho e exige ação. Como na história do barco, observamos os três tipos de pessoas nas organizações. O primeiro é aquele que se contenta com os primeiros resultados, mas desiste na primeira dificuldade.
O segundo é aquele que, ao vislumbrar o processo todo, nem dá o primeiro passo, fica reclamando e justificando, e precisa ser levado pelos outros. E aquele que rema, continua, apesar ou por causa dos obstáculos. Influenciamos e somos também influenciados pelo nível de resiliência das pessoas que nos rodeiam. Sem percebermos, nossa motivação vai crescendo ou é minada de acordo com o ambiente em que estamos. Não por acaso, o papel do líder é definidor. Além de inspirar a equipe com seus sonhos e sua visão de futuro, precisa estar energizado e entusiasmar as pessoas à sua volta. Ou seja, deve ser resiliente e acreditar que é possível ir mais longe - e motivar sua equipe para continuar em frente.
Pesquisa conduzida por nossa consultoria em conjunto com um grupo da Universidade de Wharton (EUA) revela que é mais comum encontrarmos entre os grandes líderes aqueles que enfrentaram dificuldades na juventude e infância do que os que tiveram uma trajetória mais fácil. E entenda-se como dificuldade não apenas as restrições materiais ou afetivas: aprender a lidar com os desafios, com a frustração e a valorizar a persistência e o esforço para a realização dos seus sonhos também é um caminho para desenvolver a resiliência e a maturidade.


Saber lidar com desafios
Isso serve para os executivos, pais e mães, que pensam ser sua obrigação cuidar sempre dos filhos - inclusive já adultos -, minimizando os obstáculos que enfrentam e proporcionando-lhes o máximo de proteção e conforto. Isso pode dificultar que os filhos criem suas próprias defesas, desenvolvam a sua competência de lidar com a adversidade e que sejam os proprietários das suas próprias escolhas.
A competência em lidar com a adversidade está relacionada à forma como percebemos e lidamos com desafios. Pessoas com um adequado senso de controle emocional apresentam melhores condições de desenvolvê-la. Elas não culpam os outros pelas situações adversas e partem para uma solução. Não encaram contratempos com a irritação que paralisa, muito menos com desânimo. Acreditam que problemas ocorrem por força das circunstâncias, e, mesmo que estes tenham origem em suas próprias falhas, não ficam prostrados remoendo suas deficiências, fazendo-se de vítimas ou lamentando seu destino. Enfim, pessoas que desenvolveram ao longo da vida essa competência vêem as dificuldades como limitadas na profundidade e duração ("Isso também passará"), o que abre possibilidades para agir mais rapidamente e com eficácia. Em síntese, elas não ignoram o problema, mas também não ficam retidas nele.
E você, que tipo de líder é ou tem em sua equipe? Está motivado ou motivando as pessoas a irem o mais longe possível? Acha que é melhor manter a zona de conforto e não instaurar uma pressão que às vezes é desconcertante? Ou pensa que você já fez o que pode e agora só resta esperar que os outros resolvam tudo? A escolha é sua!
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* Marina de Mazi é psicóloga e consultora da Betania Tanure Associados



Artigo gentilmente cedido pela Revista Melhor - Gestão de Pessoas, publicação da ABRH-Nacional.

Um comentário:

  1. O que dificulta é não sabermos (ou temermos) a força que existe dentro de nós!

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