Quando observamos com mais atenção tudo o que acontece à
nossa volta, fica claro que as mudanças sempre provocam algum tipo de
reação.
O sentimento mais comum é o de insegurança, causado pelas
incertezas geradas em consequência da ruptura de rotinas e do estado de
conforto. Até apoiarmos alguma mudança de fato, passamos por inevitáveis
etapas de comportamento, e destaco que a primeira reação é a negação do
fato.
Analisando com maior amplitude, é fácil observar que a
negação é a primeira ação que tenta impedir o avanço de qualquer
mudança, mesmo que temporariamente.

Para que uma escolha, uma decisão, uma situação mantenha
a sua trajetória são necessárias várias afirmações, vários “sims”.
Quando ocorre apenas uma negação, um “não”, todo o processo fica
interrompido. Ao negar uma mudança, buscamos preservar, com todas as forças,
o estado atual das coisas. Não queremos abrir mão de pequenas conquistas,
sacrifícios e escolhas que nos permitiram alcançar um grau de conforto
aceitável.
Acreditamos muito no poder que o “NÃO” possui, mesmo
sabendo que, muitas vezes, os fatos possuem forças maiores. Quando isso
acontece, mudamos nossa ação para a resistência. Essa é a mais visível
entre as reações às mudanças que manifestamos em nosso dia a dia. Resistir
é absolutamente natural para nós, pois demonstra nosso mais primitivo
instinto “guerreiro” e combativo. Quem não resiste normalmente é avaliado como
alguém fraco, sem atitude, sem personalidade, sem opinião.
Nós gostamos de um debate, de uma opinião divergente.
Publicamente admitimos, até, que é ótimo quando há resistência a uma nova
ideia, pois é graças a essa resistência que ela pode ser melhorada,
otimizada, ampliada. É durante a resistência que apresentamos nossos
argumentos, nossos pontos de vista, nossas percepções e, eventualmente,
nossas inseguranças e medos.
Somente por esses fatores já ficaria evidente concluir que
pessoas resistentes às mudanças são mais fáceis de lidar do que pessoas que
negam a mudança. Contudo, muitas vezes nos fixamos nessa resistência e
deixamos de observar com mais amplitude todo o cenário futuro.
Mudanças acontecem o tempo todo, e avançar nessa
trajetória é essencial para entendermos e nos posicionarmos diante dos novos
cenários. Quando ampliamos nossa consciência sobre as novas realidades, as
reações começam a ser mais favoráveis às mudanças. Saímos da
resistência e começamos a nos preparar, por meio da exploração dos fatos,
para todas as possibilidades, benefícios, custos, dificuldades e desafios
possíveis no novo cenário.
Avaliando o comportamento das novas gerações, destaca-se
uma característica marcante nos jovens: a de serem curiosos, famintos por
informações.
Certa vez, em uma palestra para universitários, Steve Jobs,
fundador da Apple e da Pixar, empresas mundialmente conhecidas pela capacidade
de inovação, citou uma frase em tom de exortação para os futuros
profissionais. A frase era da publicação O catálogo de toda a Terra (The
whole earth catalog), de Stewart Brand, que teve várias edições entre 1968 e
1972 – e, atualizando para os nossos dias, era uma espécie de Google
analógico. A frase citada por Steve Jobs dá uma boa indicação do comportamento
que hoje é o diferencial dos mais jovens quando estes conseguem canalizar suas
energias para algo que seja sustentável e de valor. Na edição final da
publicação, lia-se a frase “SEJA FAMINTO, SEJA TOLO”.
Ter fome de conhecimento nos direciona para todo tipo de
situações e possibilidades. Além disso, por mais incomum que seja a
percepção de velocidade que temos atualmente, nunca antes tivemos acesso a
tantas ferramentas para realizar nossas explorações. Ser “tolo” poderia ter
um significado mais áspero, dando sinais de que deveríamos adotar uma postura
menos responsável diante de mudanças, mas prefiro pensar na “tolice”
provocada pelo desprendimento de verdades absolutas, convenções e premissas
que podem, muitas vezes, estar ultrapassadas.
Se formos bem-sucedidos nessa exploração, a aceitação
dos fatos é facilitada. De maneira completamente oposta à atitude da
negação, passamos a considerar reais e possíveis as alterações de
cenários e condições.
Texto extraído do livro “Geração Y – O nascimento de uma
nova versão de Líderes”, Editora Integrare.
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