Congresso 2015

Congresso 2015

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Entrevista com Masukieviski Borges


A tecnologia é capaz de mudar processos. Ela também é capaz de mudar comportamentos? Como?

Os saltos tecnológicos proporcionaram mudanças de comportamentos na humanidade. Mas a transição dos comportamentos de uso e de como as pessoas se organizam para lidar com novas fronteiras de informação não se faz de modo homogêneo. E com isso há percepções e maturidades distintas sobre os processos de mudança.

Olhando com mais atenção, tanto a chegada de novas tecnologias quanto as mudanças de comportamento aparecem quase ao mesmo tempo. Estamos buscando novas alternativas de energia limpa, pois há riscos ambientais e de saúde por conta dos combustíveis fósseis. Utilizamos aplicativos gratuitos ou baratos para fugirmos de tarifas e impostos da telefonia.

Queremos computadores ou tablets mais leves, poderosos e versáteis, para levar o máximo de informações com um mínimo de peso. Mudam-se os hábitos, surgem novas tecnologias, mudam os comportamentos novamente. Mas as mudanças, sejam de comportamento ou tecnologia, não são iguais pra todo mundo.

As redes sociais romperam os limites rígidos entre o público e o privado. Quais as consequências disso para a gestão pública?

As redes sociais sempre existiram: o cochicho, o boato, as antigas "cartas anônimas" que espalhavam o terror e a discórdia em cidades do interior. O limite entre o público e o privado sempre foi um fio de navalha pois, enquanto seres sociais, sempre queremos mais informação, transparência e verdade.

Mas, antes, o tempo e o esquecimento ajudavam para que a vida seguisse sem sobressaltos. A diferença para as redes sociais digitais é que: o alcance é muito maior, a disseminação é gigantesca, a tsunami de comentários e julgamentos é exponencial. Uma informação privada pode percorrer o mundo em poucos minutos. E o mais importante: depois que está na internet, a informação jamais será esquecida. Ficará gravada por um tempo infinitamente maior do que a memória das pessoas poderia fazer.

Com relação ao que é privado - seja em instituições públicas ou privadas - é importante que se tenha critérios de autorização para uma correta manipulação do ciclo de vida das informações. Some-se a isso formas transparentes e éticas de lidar com informações privadas que possam se tornar públicas. Transparência e ética são parte de instituições maduras e em evolução permanente.

Quais os perfis de profissional e líder adequados a atender essas tendências?

Não há consenso sobre um determinado tipo de profissional ou liderança para lidar com novas tecnologias, comportamentos e atitudes. O que se discute muito são os propósitos e agendas que as instituições devem cumprir. Sincronizando propósitos e agendas, há melhores condições de trabalho colaborativo, mais convergência de inteligências, equipes multidisciplinares, tomadas de decisões mais rápidas e assertivas e liderança compartilhada.

Como não há receita pronta para a criação de profissionais ou líderes, é importante planejar e construir um ambiente mais saudável e positivo. É cada vez mais importante deixar de lado o perfil do "salvador da pátria" ou do "herói libertador", e apostar na criação de "equipes campeãs" ou "times que jogam junto".

Quais os riscos e oportunidades que o futuro nos reserva?

O problema não são os riscos. Eles podem ser previstos e evitados. A questão são as incertezas. Elas sim, deixam as instituições em estado de inércia.

As nossas incertezas bebem da fonte da baixa produtividade. Há poucas iniciativas e experimentações para buscar maior produtividade no Brasil. As poucas que existem ficam sob os olhares desconfiados das entidades de controle. Daí continuarmos no campo das incertezas, e arriscarmos pouco. Se olharmos com atenção, perceberemos que temos tecnologias tão modernas quanto alguns países desenvolvidos. Mesmo que não tenhamos a infraestrutura deles, já temos o suficiente para atrair futuros prósperos mais pra perto da gente.

A capacidade de atrairmos futuros prósperos está em arriscar mais em iniciativas e experimentações para sermos um país cheio de pessoas produtivas e inteligentes. O desenvolvimento de pessoas e instituições mais inteligentes irá mudar nossa crença de que os bons resultados só ocorrem por teimosia ou sacrifício. A inteligência humana é uma preciosidade que já está pronta e disponível, mas ainda a tratamos como um recurso primário.



__________________________________




Masukieviski Borges  é Graduado em Psicologia pela Universidade Católica de Pernambuco (2003). Atuou na implementação de soluções junto a grupos criativos para geração de talentos. Executivo geral da Meira.com , empreendedor residente na Ikewai Participações e Investimentos. Desde julho de 2013 é o CEO da Ceement - Soluções em Conhecimento e Negócios, buscando criar coletivos de evoluções com engajamento.
Publicado originalmente no e-zine nº 30, de 15/11/2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esclarecemos que neste Blog, todos os comentários publicados são de total responsabilidade de seus autores e adotamos um sistema de monitoração dos comentários, a fim de evitar alguns tipos de constrangimentos. Sendo assim, o comentário não será publicado caso se enquadre nos seguintes casos:

- Mensagens não relacionadas ao Post.
- Mensagens com caráter depreciativo.


Agradecemos a participação,