Congresso 2015

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Desafio à gestão de pessoas: por que é tão difícil mudar?

Dentre as palestras magnas de maior sucesso do 3º Congresso sobre Gestão de Pessoas no Setor Público Paulista, está a de Pedro Calabrez – Desafio à gestão de pessoas: por que é tão difícil mudar?, mediada por Luiz Palma.

A resposta veio no segundo dia do congresso, quando o médico, neurocientista e professor da Unifesp, Pedro Calabrez, assim iniciou sua palestra:“Eu dedico a minha vida a estudar o cérebro humano. Cada cérebro humano possui cerca de 100 bilhões de neurônios. O número de conexões entre eles é maior que a quantidade de átomos no universo. Isso num cérebro apenas. Isso dá uma noção da magnitude da complexidade do cérebro humano”.

Calabrez explica que o cérebro tem uma dificuldade enorme para a mudança de comportamento. O que ele faz é um processo de autoengano.  “Imagine que a mente tem várias pastas, como um computador. Ela rejeita tudo que incomode, que contrarie o conteúdo da pasta. Nosso comportamento é muito mais irracional do que se pensa”. 

Esse comportamento irracional, automático, nós chamamos de hábito. Isso faz com que a gente adote comportamentos padronizados sem gastar energia, e sem perder muito tempo. O hábito é muito agradável, e mudar significa quebrar hábitos. Isso é difícil por que quando se quer mudar um hábito vem o autoengano, e você em vez de mudar posterga para o futuro. Essas promessas de futuro nos impedem de mudar agora, o que traz consequências seríssimas para a gestão de pessoas nas empresas, já que todo mundo tem hábitos. Elas estão há muito tempo fazendo a mesma coisa, por que isso é agradável, automático e gasta pouca energia. Mudar acaba sendo difícil, demanda energia e torna-se desagradável, o que leva à enorme tendência que temos de nos enganar.

O autoengano é tão mais poderoso quanto mais difícil for mudar a situação.Mas o ser humano adora apontar o dedo pra fora. A culpa então é do chefe, do governo, a culpa é sempre é dos outros. “Quando você aponta um culpado, você tira a culpa de si próprio”, esclarece ele.Como mudar o hábito, então? Todo hábito tem três grandes dimensões. A mais óbvia é a do comportamento automático que se repete sem gasto de energia. Isso sempre gera uma recompensa. Mas antes sempre há um gatilho, algo que detona o comportamento.
“Se você quiser mudar um hábito, preste atenção naquilo que leva ao hábito”, explica. Sempre há uma situação que nos leva a repetir o hábito. A segunda dica é mudar uma coisa de cada vez.

Antes de finalizar, ele lembra que o mundo está sempre mudando. “Então, em vez de ficar apontando o dedo para o mundo, pare de se preocupar tanto com o que está fora do seu controle e comece a mudar aquilo que você pode: o seu comportamento de fato. O mundo não muda com crenças, o mundo muda com ações”, recomendou a todos.

O mediador Luiz Palma – psicólogo e técnico da Fundap – ponderou que a mudança também exige um antagonismo, e se faz com utopia, união e uma perspectiva de transformação histórica. “Acrescento isso para que possamos nos perceber como sujeito histórico e não ficarmos com esse peso sobre nós mesmos. É possível mudar o mundo em conjunto, num contexto histórico e sob condições motivadoras, mas quantas organizações oferecem de fato essas condições? Sinto que todos desempenham um script predefinido”, questionou. Segundo ele, o direito público só permite que se faça o que a lei determina, em um mundo de incessantes mudanças. “Essa talvez seja uma das primeiras revoluções: mudar não só o indivíduo, mas a configuração das instituições”, questionou.

Calabrez observou que o conhecimento neurocientífico não considera o cérebro humano de forma isolada. “A gente sabe que a maior prioridade do cérebro hoje é pensar sobre outras pessoas”, alertou. Basta perceber o quanto pensamos em outras pessoas todos os dias. Nosso cérebro é social, ele está o tempo todo integrado com outros indivíduos. Ele não está diretamente conectado com outros, o que gera certo egocentrismo agravado pelo individualismo que temos hoje.

Segundo ele, vivemos em uma sociedade, especialmente a ocidental, em que as pessoas agem cada vez mais como indivíduos, e menos em grupos. Esse processo histórico, e até econômico, faz com que as pessoas percam o respaldo do outro. E perder o respaldo do outro é perigoso, por que essa é uma das principais garantias de conforto e alegria. A principal variável para a felicidade é a qualidade das relações. Essa deve ser a nossa preocupação, pois só elas podemos controlar. 

Outra pergunta apresentada foi “como mudar o coletivo apenas mudando a si mesmo”? A gente tem que ter objetivo, tem que ter desafio. O stress é uma coisa que faz mal, todo mundo sabe. Existe um tipo de stress que na medida correta nos motiva. Isso é o que a gente chama de desafio. O desafio é necessário ao engajamento. O engajamento é uma atividade que oferece um desafio que esteja em linha com as suas competências. Se o desafio for muito grande em relação a elas, você estressa. Se for pequeno, você fica entediado, fica desmotivado. Então os gestores precisam  oferecer desafios adequados às competências dos seus colaboradores. Essa é uma boa forma de promover as mudanças no nível individual. O que acontece na maioria das vezes é uma distribuição errada dos desafios.

Como quebrar hábitos acima dos 50? Tem gente que acha que a partir de uma determinada idade não precisa mais mudar. “Todo mundo tem que entender que a mudança é benéfica em qualquer idade. O sabor da vida é a mudança, é o desenvolvimento é a aprendizagem. Quanto mais você mantiver seu cérebro ativo, mais você vai evitar doenças como Alzheimer e esse tipo de coisa. Isso vai te fazer viver mais e melhor”, conclui.

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