Dentre as palestras magnas de
maior sucesso do 3º Congresso sobre Gestão de Pessoas no Setor
Público Paulista, está a de Pedro Calabrez – Desafio à gestão de
pessoas: por que é tão difícil mudar?, mediada por Luiz Palma.
A resposta
veio no segundo dia do congresso, quando o médico, neurocientista e professor
da Unifesp, Pedro Calabrez, assim iniciou sua palestra:“Eu dedico a minha vida
a estudar o cérebro humano. Cada cérebro humano possui cerca de 100 bilhões de
neurônios. O número de conexões entre eles é maior que a quantidade de átomos
no universo. Isso num cérebro apenas. Isso dá uma noção da magnitude da
complexidade do cérebro humano”.
Calabrez explica que o cérebro tem uma
dificuldade enorme para a mudança de comportamento. O que ele faz é um processo
de autoengano. “Imagine que a mente tem várias pastas, como um computador. Ela
rejeita tudo que incomode, que contrarie o conteúdo da pasta. Nosso
comportamento é muito mais irracional do que se pensa”.
Esse comportamento
irracional, automático, nós chamamos de hábito. Isso faz com que a gente adote
comportamentos padronizados sem gastar energia, e sem perder muito tempo. O
hábito é muito agradável, e mudar significa quebrar hábitos. Isso é difícil por
que quando se quer mudar um hábito vem o autoengano, e você em vez de mudar
posterga para o futuro. Essas promessas de futuro nos impedem de mudar agora, o
que traz consequências seríssimas para a gestão de pessoas nas empresas, já que
todo mundo tem hábitos. Elas estão há muito tempo fazendo a mesma coisa, por
que isso é agradável, automático e gasta pouca energia. Mudar acaba sendo
difícil, demanda energia e torna-se desagradável, o que leva à enorme tendência
que temos de nos enganar.
O autoengano é tão mais poderoso quanto mais difícil
for mudar a situação.Mas o ser humano adora apontar o dedo pra fora. A culpa
então é do chefe, do governo, a culpa é sempre é dos outros. “Quando você
aponta um culpado, você tira a culpa de si próprio”, esclarece ele.Como mudar o
hábito, então? Todo hábito tem três grandes dimensões. A mais óbvia é a do
comportamento automático que se repete sem gasto de energia. Isso sempre gera
uma recompensa. Mas antes sempre há um gatilho, algo que detona o
comportamento.
“Se você quiser mudar um hábito, preste atenção naquilo que leva
ao hábito”, explica. Sempre há uma situação que nos leva a repetir o hábito. A
segunda dica é mudar uma coisa de cada vez.
Antes de finalizar, ele lembra que o
mundo está sempre mudando. “Então, em vez de ficar apontando o dedo para o
mundo, pare de se preocupar tanto com o que está fora do seu controle e comece
a mudar aquilo que você pode: o seu comportamento de fato. O mundo não muda com
crenças, o mundo muda com ações”, recomendou a todos.
O mediador Luiz Palma –
psicólogo e técnico da Fundap – ponderou que a mudança também exige um
antagonismo, e se faz com utopia, união e uma perspectiva de transformação
histórica. “Acrescento isso para que possamos nos perceber como sujeito
histórico e não ficarmos com esse peso sobre nós mesmos. É possível mudar o
mundo em conjunto, num contexto histórico e sob condições motivadoras, mas
quantas organizações oferecem de fato essas condições? Sinto que todos
desempenham um script predefinido”, questionou. Segundo ele,
o direito público só permite que se faça o que a lei determina, em um mundo de
incessantes mudanças. “Essa talvez seja uma das primeiras revoluções: mudar não
só o indivíduo, mas a configuração das instituições”, questionou.
Calabrez
observou que o conhecimento neurocientífico não considera o cérebro humano de
forma isolada. “A gente sabe que a maior prioridade do cérebro hoje é pensar
sobre outras pessoas”, alertou. Basta perceber o quanto pensamos em outras
pessoas todos os dias. Nosso cérebro é social, ele está o tempo todo integrado
com outros indivíduos. Ele não está diretamente conectado com outros, o que
gera certo egocentrismo agravado pelo individualismo que temos hoje.
Segundo
ele, vivemos em uma sociedade, especialmente a ocidental, em que as pessoas
agem cada vez mais como indivíduos, e menos em grupos. Esse processo histórico,
e até econômico, faz com que as pessoas percam o respaldo do outro. E perder o
respaldo do outro é perigoso, por que essa é uma das principais garantias de
conforto e alegria. A principal variável para a felicidade é a qualidade das
relações. Essa deve ser a nossa preocupação, pois só elas podemos
controlar.
Outra pergunta apresentada foi “como mudar o coletivo apenas
mudando a si mesmo”? A gente tem que ter objetivo, tem que ter desafio. O stress
é uma coisa que faz mal, todo mundo sabe. Existe um tipo de stress que na
medida correta nos motiva. Isso é o que a gente chama de desafio. O desafio é
necessário ao engajamento. O engajamento é uma atividade que oferece um desafio
que esteja em linha com as suas competências. Se o desafio for muito grande em
relação a elas, você estressa. Se for pequeno, você fica entediado, fica
desmotivado. Então os gestores precisam oferecer desafios adequados às competências
dos seus colaboradores. Essa é uma boa forma de promover as mudanças no nível
individual. O que acontece na maioria das vezes é uma distribuição errada dos
desafios.
Como quebrar hábitos acima dos 50? Tem gente que acha que a
partir de uma determinada idade não precisa mais mudar. “Todo mundo tem que
entender que a mudança é benéfica em qualquer idade. O sabor da vida é a
mudança, é o desenvolvimento é a aprendizagem. Quanto mais você mantiver seu
cérebro ativo, mais você vai evitar doenças como Alzheimer e esse tipo de
coisa. Isso vai te fazer viver mais e melhor”, conclui.
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