Congresso 2015

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Entrevista com Rita Kietis



Rita Kietis Vivolo é psicóloga e  servidora da Secretaria da Saúde. O tema de sua dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva foi: 'Afastamentos por problemas de saúde dos servidores públicos estatutários da Coordenadoria de Serviços de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo'. 


Vamos saber um pouco mais desse interessante trabalho.


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O que a levou a fazer um estudo sobre a saúde dos servidores da Coordenadoria de Serviços da Saúde da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo?
Trabalho na Secretaria da Saúde há 21 anos, sendo boa parte deste tempo atuante em Unidades de Atendimento e pude acompanhar a dura rotina dos trabalhadores que prestam serviços de Saúde Pública à população, observando o desenvolvimento das atividades, as cobranças, a falta de incentivos externos, o descrédito da população usuária do sistema, os níveis de estresse, o adoecimento e a proximidade com histórias difíceis que terminaram em afastamentos definitivos de suas funções e até suicídios nos locais de trabalho.
Ao presenciar o sofrimento daqueles que são responsáveis por cuidar das pessoas doentes sempre vinha o interesse em compreender o processo de adoecimento e conhecer os motivos, e mais do que isto, estudá-los com o objetivo de pensar em estratégias possíveis de aliviar, evitar e prevenir as suas consequências e poder zelar por um ambiente mais sadio em conjunto com estes trabalhadores.
Foquei a pesquisa na Coordenadoria de Serviços de Saúde porque é a que concentra a maior parte dos trabalhadores dentro dos 44 hospitais e 4 ambulatórios sob gestão direta e que, portanto, representa a vocação da Secretaria da Saúde à população. Foi analisado o banco de dados com 35.044 registros dos servidores no ano de 2011.

Quais as principais causas dos afastamentos dos profissionais da área da saúde atualmente?
Observou-se que os motivos de licenças em mulheres estão mais frequentemente associados a doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo, com 23,7% das menções; transtornos mentais e de comportamentos, 20,2%; lesões, envenenamento e algumas outras consequências, 9,6%; e doenças do olho e anexo, 9,2%.
Entre os homens os mais frequentes foram os seguintes: transtornos mentais e de comportamentos, com 20,4%; doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo com 16,2%; lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências, com 12,8% e doenças do aparelho circulatório com 10,8%. Segundo a duração do afastamento, observamos que as que as licenças mais curtas são mais frequentes em mulheres (somam 60% entre 3 e 30 dias) e as mais longas em homens, somando 56% entre 15 a 60 dias.

Qual é o perfil do servidor que mais adoece na área da saúde?
Se pudéssemos definir um perfil padrão do trabalhador da Saúde, este seria assim caracterizado:
Sexo:  feminino - 70%
Idade: entre 41 a 50 anos - 36%
Nível: intermediário e com escolaridade equivalente ao ensino médio ou técnico completo- 46%
Área de atuação: Saúde - 71%
Unidade de Lotação: Hospitais - 95%
Classe profissional: Auxiliares ou Técnicos de Enfermagem - 33%
E é o trabalhador que tem mais ausências por licenças saúde com 55% dos casos.

Quais os problemas decorrentes do elevado número de afastamentos dos profissionais dessa área?
Podemos analisar a dimensão destes afastamentos na Secretaria da Saúde sob dois prismas principais: Gestão de Serviços e Gestão de Pessoas.
Do ponto de vista da Gestão dos Serviços, temos que considerar a ocorrência em torno de 1.200 afastamentos/mês, portanto, aproximadamente 14.400 ao ano. Os maiores hospitais possuem padrão de lotação em torno de 1.000 a 1.200 servidores, portando os afastamentos representam praticamente um hospital fechado por mês ou uma redução de 27% na capacidade de atendimento à população, sem considerarmos na estimativa os afastamentos de trabalhadores celetistas e o impacto do custo financeiro para os cofres públicos. Além disto, não existe um sistema pronto para obtenção de dados e acompanhamento sistemático de indicadores relativos ao absenteísmo por afastamentos médicos.
Do ponto de vista da Gestão de Pessoas e a Saúde do Trabalhador, que traz prejuízos incalculáveis, é um desafio manter um nível de qualidade de vida entre os servidores, enquanto os afastados, que geralmente não costumam ser substituídos, e os demais que permanecem em atividade que podem ficar sobrecarregados, sujeitos a elevação do nível de stress, desgaste físico e emocional, comprometendo a qualidade, eficiência e a humanização na assistência. Vale ainda destacar a importância de observarmos um resultado alarmante, já que a segunda maior causa dos afastamentos com 20% dos casos estão relacionados a transtornos mentais e comportamentais, que inclui casos de relacionados à Depressão, Ansiedade, Transtorno Bipolar, Esquizofrenia, Psicose e Dependência de Álcool, Crack e outras drogas.

Em que sentido é preciso avançar para diminuir esse problema? O que poderia ser feito? 
Acredito que as medidas a serem tomadas também poderiam partir destes dois primas, do ponto de vista da Gestão de Serviços é fundamental implantar mecanismos, um sistema, que permita acompanhar estes afastamentos, possibilitando a emissão de informes, relatórios e a definição de indicadores para avaliação. Com estas informações seria possível traçar políticas de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e reabilitação dos trabalhadores.
Do ponto de vista da Gestão de Pessoas, ao analisar os afastamentos por problemas de saúde, observar as causas e avaliar o clima organizacional aponta-se para a necessidade da implementação de uma política de Saúde do Trabalhador, de viabilizar o resgate da autoestima e a reconstrução da imagem do servidor público, promover e preservar a saúde de quem presta serviços de saúde, enfim, cuidar de quem cuida.


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Publicado originalmente no e-zine nº 36, de 26/01/2015.

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