Abaixo postamos dois excelentes comentários do colunista da revista Época Negócios para a área de inovação, Clemente Nóbrega. Ambos comentários retratam duas leituras feitas pelo colunista como uma forte indicação para leitura.
O primeiro fala da potencialidade de um instrumento de fácil utilização e que não gera custo algum para a organização, podendo ser facilmente adotado por qualquer equipe: o Checklist. Já o segundo comentário é especialmente instigante, pois trata do acaso, do incontível, da ingovernabilidade de certos acontecimentos que, após efetivados, parecem tão simples de serem previstos – ou o óbvio invisível.
Esperamos que aproveitem a leitura. Quem tiver interesse em conhecer o blog do colunista citado, o qual recomendamos, acesse http://colunas.epocanegocios.globo.com/ideiaseinovacao/.
Viva o checklist!
Um livrinho bom é esse The Checklist Manifesto.
A idéia central é muito simples: num mundo cada vez mais dominado pelo complexo e imprevisível, a adoção de procedimentos automáticos-sequênciais passo-a-passo de ações banais – é uma forma muito efetiva de se evitar erros que podem ser evitados, mas não são. Falhas evitáveis continuam vitimando pessoas em todos os campos da atividade organizada.
Atividade organizada? Sinônimo de gestão, certo? Quem tem obrigação de fazer alguma coisa acontecer no mundo real devia se apoiar mais em checklists e não contar só com mais saber, especialização e treinamento-mesmo em atividades supostamente criativas (restaurantes de cozinha sofisticada, por exemplo).
O autor é médico cirurgião, e uma das experiências que relata mostra como a adoção de um checklist de um minuto e meio, reduziu as taxas de mortalidade em mais de 30% em oito hospitais em várias partes do mundo, praticamente sem custo e para todos os tipos de cirurgia.
São checklists que tornam possíveis algumas das coisas mais difíceis que fazemos-pilotar aviões ou construir arranha-céus, por exemplo. Checklists deviam ser uma espécie de ideal a ser atingido em qualquer atividade complexa, de modo a reduzir riscos. Codificar conhecimento em uma sequência de passos simples-inteligíveis e realizáveis por qualquer um- é essencial para que se possa fazer qualquer coisa em larga escala, de forma repetida e com segurança. Para quem (que como eu) abomina a idéia de criatividade e performance como “manifestação-de genialidade-de pessoas-especiais”, isso soa como música.
Procure no Google The Checklist Manifesto. Há versões para download. Em português não tem. Nossas editoras estão guardando suas verbas para alguma nova edição daquele velhíssimo monge servente (ou seria monge gerente? Ou líder dos serventes do mosteiro? Ou executivo que foi demitido e foi ser monge…?).
Um Cisne Negro visita o Japão
Quem está observando a cena no Japão deve (re)ler, rápido, The Black Swan de Nassim Nicholas Taleb. Subtítulo: O impacto do altamente improvável – um livro que já comentei aqui; o melhor de todos que li nos últimos anos. Um Cisne Negro (nada a ver com o filme com Natalie Portmann) é um evento que está “fora do âmbito das expectativas normais, porque nada, no passado, aponta convincentemente para a sua possibilidade”. Os outros dois atributos fundamentais de um Cisne Negro são: seu impacto é extremo, e parece explicável e previsível, apenas após o fato.
Assimilar as implicações disso é essencial para quem quer ser líder, e é um enorme desafio intelectual. Todo o discurso popular da “auto-ajuda”, por exemplo, garante que se você desejar muito uma coisa “o universo vai conspirar a seu favor”. Adoramos acreditar nisso, mas o Cisne Negro diz que o universo não está nem aí para você; se você der certo, pode ter sido por sorte- ou você acha que aquela devastação no Japão ocorreu porque o Universo se zangou com eles? Ou porque eles não “acreditaram” o suficiente? Ou que o mesmo não aconteceu (ainda) em Niterói (onde eu moro, toc, toc, toc..) porque Deus é niteroiense?
Se a lógica do Cisne Negro é correta-como eu não tenho dúvida que é- então temos de conviver com o fato de que há coisas “não sabíveis”, e que temos de viver produtivamante sabendo que não sabemos; e sabendo que o que não sabemos pode ter conseqências terríveis esteja você no Japão ou em Niterói.
Como se toma decisão num mundo assim?
“… O efeito dos Cisnes Negros vem aumentando. Começou a se acelerar durante a revolução industrial, quando o mundo começou a ficar mais complicado, ao mesmo tempo que eventos comuns-aqueles que estudamos ,discutimos e tentamos prever a partir da leitura dos jornais- tornaram-se cada vez mais inconseqüentes”.
Nós seres humanos somos arrogantes. Pensamos que sabemos . Estudamos o “normal”, e descartamos o acaso e o inimaginável. Porque Cisnes Negros são raros e imprevisíveis, as medidas estatísticas que “experts” usam para prever “risco”, geralmente nem sequer consideram sua possibilidade.
“O que surpreende não é a magnitude dos erros de nossas previsões, mas nossa falta de consciência [da lógica do Cisne Negro]. Podemos, facilmente, provocar Cisnes Negros graças à nossa ignorância agressiva”.
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