Congresso 2015

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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Imperativo estratégico


por Marco Antonio Fujihara [1]


Para companhias brasileiras, incorporar o viés sustentável nos negócios é importante diferencial para aproveitar suas vantagens competitivas.

O desenvolvimento da sustentabilidade como parte estratégica dos negócios é uma das mais expressivas mudanças no mundo corporativo das últimas décadas. Na área acadêmica, inúmeros trabalhos já vêm, há algum tempo, mostrando que o sucesso empresarial passou a ser associado também à legitimidade social do que é produzido e da forma como é produzido. Analisar os fatores de relevância da sustentabilidade empresarial pode nos fazer entender melhor as reais motivações de organizações que buscam, em um novo paradigma, a expressão maior de seus valores. Investidores e consumidores estão cada dia mais atentos a esses fatores. É deles que vêm, atualmente, as maiores pressões para as mudanças adotadas pelas companhias rumo a uma gestão sustentável. Ao empenhar seu dinheiro, bancos, fundos e seguradoras estão cada vez mais incorporando fatores de sustentabilidade nas análises de risco de solvência e sobrevivência das empresas clientes. E os consumidores tornam-se cada vez mais ativos no exercício do seu poder de influenciar nas decisões das empresas das quais adquirem produtos e serviços

No Brasil, um país com vantagens comparativas extremamente bem estruturadas — recursos naturais abundantes, crescimento econômico e muito por fazer —, incluir a visão de sustentabilidade nos processos produtivos pode significar a diferença entre ganhar ou não ganhar mercado, gerar ou não gerar valor adicionado, principalmente em um mundo que a cada momento se torna mais exigente quanto a novas abordagens mercadológicas, econômicas e regulatórias.

As mudanças nos padrões de produção e consumo têm sido mais intensas nos campos em que os impactos sociais e ambientais são, claramente, fatores de competitividade — ou, mesmo, determinantes para a sobrevivência, ou existência, do próprio mercado. Como no caso de empresas que utilizam recursos naturais — as mineradoras, por exemplo, têm sido alvo não só de medidas regulatórias, como também de pressões de grupos locais e internacionais. O uso da água nesses processos, vital para a sobrevivência do próprio negócio, traz como consequência o clamor pela proteção de mananciais e nascentes.

Neste artigo, vamos analisar as principais tendências vindas destas duas fontes de pressão (consumidores e investidores). E, também, mostrar que para as empresas brasileiras não basta importar modelos praticados em outros países. As demandas e o grau de maturidade, bem como as realidades econômica e ambiental, são muito diferentes, e é preciso estar atento a essas diferenças para serem bem-sucedidas na implantação de gestão sustentável dos negócios, aumentarem sua competitividade e atração de capital.

É inegável que as pressões exercidas por investidores internacionais funcionam, muitas vezes, como acelerador para empresas locais incorporarem práticas de gestão sustentável ao negócio. Recentemente, por exemplo, uma grande empresa do setor sucroalcooleiro foi comprada por uma multinacional, e passou a ser obrigada a publicar relatórios que antes nem sonhava. Também levou à criação de uma vice-presidência de sustentabilidade. Mas em relação ao inventário e controle de emissões de gases de efeito estufa (GEE), por exemplo, regras internacionais que consideram usinas térmicas como matriz energética, praxe na Europa, não se aplicam à realidade brasileira, onde a matriz é hídrica.

No Brasil, há bastante espaço para ser pioneiro, posicionar-se à frente da concorrência. Recentemente, nós da Key Associates ajudamos um grande grupo com negócios em diversos setores, do financeiro à construção civil, a criar uma metodologia de cálculo para pagamento de bônus aos executivos onde resultados obtidos pela implantação de ações sustentáveis contam muitos pontos.

Outro exemplo? No ano passado, fomos chamados pela BM&FBovespa para criar uma metodologia de cálculo do Índice de Carbono Eficiente (baseado nas emissões de gases de efeito estufa, ou GEE), o ICO2. Partimos de parâmetros internacionais, como os da Global Report Initiative (GRI), mas tivemos que “tropicalizar” os cálculos. O índice, lançado no final do ano passado, ainda está em fase experimental e leva em consideração, para ponderação do peso das ações de cada participante, seu grau de eficiência de emissões de GEE, além do free float (total de ações em circulação). O objetivo é incentivar as empresas a aferir, divulgar e monitorar suas emissões. E, com isso, torná-las mais atraentes aos olhos de investidores.

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Artigo gentilmente cedido pela Revista Harvard Business Review Brasil (www.hbrbr.com.br).

[1] Marco Antonio Fujihara é diretor da Key Associados e do Instituto Totum de gestão empresarial; cogestor do fundo de private equity Brasil Sustentabilidade. Foi diretor de recursos naturais renováveis do Ibama, e implantou e dirigiu a área de sustentabilidade da PricewaterhouseCoopers no Brasil, com atuação na América Latina.

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