Eu não me lembro o que você fez há 10 meses: vieses e avaliação de desempenho
Um livro que indiquei em outro post (Decisive: How To Make Better Choices in Life and Work) apresenta soluções muito práticas para superar diversos vieses que atingem o cotidiano das organizações, frequentemente com consequências sérias.
Um outro livro que trata do mesmo tema (e que compila como poucos os vieses identificados por décadas de pesquisa na economia comportamental e na psicologia social), também com enfoque prático, é o livro dos professores de Administração Max Bazerman (Univ. Harvard) e Don Moore (Univ. Carnegie Mellon). Para quem tem interesse no tema, é leitura imprescindível: Judgment in Managerial Decision Making (2009). É utilizado no curso que o Bazerman dá em Harvard.
O livro de Bazerman e Moore trata, por exemplo, de um viés que tem consequências na avaliação de desempenho, realizado anualmente nas organizações. Como esse viés se manifesta? Com base em sua memória, gestores avaliam o desempenho de funcionários de forma naturalmente enviesada: exemplos mais vívidos de comportamentos dos funcionários (sejam positivos ou negativos) são mais facilmente lembrados e vão dar a impressão de que são muito mais numerosos do que os comportamentos comuns do dia-a-dia, que não são gravados na memória do gestor da mesma forma. Assim, os comportamentos mais facilmente recuperáveis da memória e que tendem a não ser representativos do desempenho do funcionário terão um peso claramente desproporcional em avaliações de desempenho. A proximidade temporal dos comportamentos também tem uma influência comprovadamente desproporcional: as evidências mostram que os gestores dão um peso muito maior aos eventos ocorridos nos últimos 3 meses do que nos 9 meses anteriores. Destaco: mesmo assim, a maioria esmagadora das empresas faz apenas avaliações anuais. Esse é mais um caso de gap entre o que a ciência sabe e o que as organizações aplicam.
“Muitos profissionais usam seu tempo ineficientemente porque a cultura organizacional focada em horas trabalhadas não os força a pensar rigorosamente sobre o que é realmente importante”
É o que diz Robert Pozen, de Harvard, nesse texto bem interessante, que vai ao encontro da discussão sobre como medir produtividade dos profissionais. O texto está no blog da Harvard Business Review: http://blogs.hbr.org/hbsfaculty/2012/06/stop-working-all-those-hours.html
A discussão sobre mensuração de produtividade e configuração do trabalho tem ocupado consultorias e o mundo acadêmico desde que o Yahoo! resolveu extinguir seu programa de home office. Há 2 semanas a consultoria Deloitte organizou um evento ao vivo para discutir o tema, reunindo diversos especialistas. Em resumo, a Deloitte concluiu que as organizações devem estar abertas para formas flexíveis de configuração de trabalho que atendam os interesses de todas as partes envolvidas, inclusive, evidentemente, delas mesmas. Um dos pontos que eu destaco das conclusões da consultoria é a necessidade de os gestores definirem claramente o que esperam de suas equipes em termos de geração de valor.
Acelerando a melhoria de desempenho no trabalho: Novas formas de organização do trabalho
A mesma Deloitte lançou também um trabalho fantástico, que propõe formas de reconfiguração do trabalho que propiciem inovação, agregação de valor e motivação aos profissionais, utilizando conceitos como o design thinking e baseando-se na necessidade de as organizações superarem o conceito de “silos”. Vale muito a pena ler:
http://cdn.dupress.com/wp-content/uploads/2013/06/DUP345_Workplace-Redesign_vFINAL-6.3.pdf
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* Hamilton Coimbra Carvalho, Mestre em Administração pela USP e Agente Fiscal de Rendas do Estado de São Paulo.
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