Dulce Pires Flauzino[1]
Jairo Eduardo
Borges-Andrade[2]
Sumário
1. Introdução;
2. Método;
4. Conclusão.
RESUMO
O comprometer-se com a
organização envolve alguma atividade do indivíduo no sentido de identificar-se
com ela e desejar manter-se como seu membro, a fim de satisfazer seus
interesses e facilitar o alcance das missões organizacionais. Adotando a
concepção de comprometimento afetivo de Mowday, Porter e Steers (1979), que
enfatiza a natureza do processo de identificação do indivíduo com os objetivos
e valores da organização, e a escala reduzida proposta por Bastos (1994), este
artigo analisa o comprometimento organizacional de servidores públicos ligados
à atividade-fim em saúde, educação e segurança. Os resultados apontam que o
instrumento modificado permite identificar o comprometimento dos servidores e
que este está vinculado à missão organizacional percebida e não à missão real.
Na amostra estudada, altos níveis de comprometimento foram encontrados entre
servidores da área de segurança, quando comparada às áreas de saúde e educação.
4. Conclusão
Apesar de ter sido encontrado
moderado comprometimento afetivo dos servidores públicos, é necessária a
ampliação da quantidade e diversidade de organizações estudadas para haver a
identificação de um padrão nacional e não apenas restrito a uma unidade da
federação. Isso permitiria um aumento de variabilidade e, conseqüentemente, de
estabilidade dos achados, formando um quadro mais fidedigno do comprometimento
organizacional afetivo do servidor público brasileiro.
Outro aspecto que necessita ser
analisado é a lealdade. O item relativo a essa variável foi eliminado quando da
análise fatorial. Em estudos brasileiros anteriores esse item se agregava aos
demais. A eliminação do item pode estar refletindo a crescente diminuição da
lealdade dos empregadores em relação aos trabalhadores quando a preocupação
consiste em reduzir custos. Como o comprometimento empregador-trabalhador é
permeado por relações de troca, a lealdade do servidor com relação à
organização também está reduzida.
Sabe-se que a redução de custos é
um imperativo diante do fenômeno da globalização. No entanto, é preciso ser
repensada a forma como tem sido feita. Mesmo que o custo financeiro seja
reduzido, a quebra da lealdade pode produzir, em futuro próximo, custos maiores
como elevação da taxa de rotatividade (aposentadoria imediatamente após o
direito adquirido, o que é descapitalizador especialmente para as universidades
públicas brasileiras) e emissão de comportamentos disfuncionais que
desconsiderem princípios morais (furtos, descaso ou depredação do patrimônio,
entre outros).
Assim, pode ser questionado: é
possível a reconquista dos princípios morais (muitas vezes, denominados,
erroneamente, éticos), tão propagada dentro das organizações, se há uma
violação do sentimento de lealdade? É possível confiar na existência de uma
relação de troca se uma das partes viola seus acordos? São necessários
posicionamentos críticos diante desse fenômeno, analisando as suas
conseqüências psicológicas e morais. Quando se reflete sobre essas questões,
algumas dúvidas surgem: caso haja um incremento na diminuição da lealdade que
se estenda das organizações administradas pelo Estado para a população (como já
vem ocorrendo em alguns casos), qual seria o papel dele na prestação de
serviços à população e na proteção do cidadão brasileiro? Ficam as questões
para reflexão.
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Artigo gentilmente cedido pela Revista de Administração Pública - RAP da Fundação Getúlio Vargas - FGV.
Publicado originalmente em: Rev. Adm. Pública v.42 n.2 Rio de Janeiro mar./abr. 2008, pp. 253-273.
[1]
Mestre e doutora em psicologia
pela Universidade de Brasília (UnB) na área de psicologia organizacional e do
trabalho. Professora adjunta I da Universidade Federal de Juiz de Fora,
Departamento de Psicologia. Endereço: Rua Barão de Cataguases, 95, ap. 201,
Centro — CEP 36015-370, Juiz de Fora, MG, Brasil.
[2]
Mestre
e doutor em sistemas instrucionais pela Florida State University, Tallahassee,
EUA e pós-doutor pela International Food Policy Research Institute, I.F.P.R.I.,
Estados Unidos, pela University of Sheffield, Sheffield, Grã-Bretanha e pela
Rijksuniversiteit Gröningen, RUG, Holanda.
Professor titular da Universidade
de Brasília, Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Social e do
Trabalho. Endereço: Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia,
Departamento de Psicologia Social e do Trabalho. Campus Darcy Ribeiro, ICC/Ala
Sul Asa Norte — CEP 70910-900, Brasília, DF, Brasil.
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