Congresso 2015

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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Comprometimento de servidores públicos e alcance de missões organizacionais [parte 4 - Conclusão]


Dulce Pires Flauzino[1]
Jairo Eduardo Borges-Andrade[2]
Sumário
2. Método;
4. Conclusão.

RESUMO
O comprometer-se com a organização envolve alguma atividade do indivíduo no sentido de identificar-se com ela e desejar manter-se como seu membro, a fim de satisfazer seus interesses e facilitar o alcance das missões organizacionais. Adotando a concepção de comprometimento afetivo de Mowday, Porter e Steers (1979), que enfatiza a natureza do processo de identificação do indivíduo com os objetivos e valores da organização, e a escala reduzida proposta por Bastos (1994), este artigo analisa o comprometimento organizacional de servidores públicos ligados à atividade-fim em saúde, educação e segurança. Os resultados apontam que o instrumento modificado permite identificar o comprometimento dos servidores e que este está vinculado à missão organizacional percebida e não à missão real. Na amostra estudada, altos níveis de comprometimento foram encontrados entre servidores da área de segurança, quando comparada às áreas de saúde e educação.


4. Conclusão

Apesar de ter sido encontrado moderado comprometimento afetivo dos servidores públicos, é necessária a ampliação da quantidade e diversidade de organizações estudadas para haver a identificação de um padrão nacional e não apenas restrito a uma unidade da federação. Isso permitiria um aumento de variabilidade e, conseqüentemente, de estabilidade dos achados, formando um quadro mais fidedigno do comprometimento organizacional afetivo do servidor público brasileiro.

Outro aspecto que necessita ser analisado é a lealdade. O item relativo a essa variável foi eliminado quando da análise fatorial. Em estudos brasileiros anteriores esse item se agregava aos demais. A eliminação do item pode estar refletindo a crescente diminuição da lealdade dos empregadores em relação aos trabalhadores quando a preocupação consiste em reduzir custos. Como o comprometimento empregador-trabalhador é permeado por relações de troca, a lealdade do servidor com relação à organização também está reduzida.

Sabe-se que a redução de custos é um imperativo diante do fenômeno da globalização. No entanto, é preciso ser repensada a forma como tem sido feita. Mesmo que o custo financeiro seja reduzido, a quebra da lealdade pode produzir, em futuro próximo, custos maiores como elevação da taxa de rotatividade (aposentadoria imediatamente após o direito adquirido, o que é descapitalizador especialmente para as universidades públicas brasileiras) e emissão de comportamentos disfuncionais que desconsiderem princípios morais (furtos, descaso ou depredação do patrimônio, entre outros).

Assim, pode ser questionado: é possível a reconquista dos princípios morais (muitas vezes, denominados, erroneamente, éticos), tão propagada dentro das organizações, se há uma violação do sentimento de lealdade? É possível confiar na existência de uma relação de troca se uma das partes viola seus acordos? São necessários posicionamentos críticos diante desse fenômeno, analisando as suas conseqüências psicológicas e morais. Quando se reflete sobre essas questões, algumas dúvidas surgem: caso haja um incremento na diminuição da lealdade que se estenda das organizações administradas pelo Estado para a população (como já vem ocorrendo em alguns casos), qual seria o papel dele na prestação de serviços à população e na proteção do cidadão brasileiro? Ficam as questões para reflexão.


Referências bibliográficas

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Artigo gentilmente cedido pela Revista de Administração Pública - RAP da Fundação Getúlio Vargas - FGV.
Publicado originalmente em: Rev. Adm. Pública v.42 n.2 Rio de Janeiro mar./abr. 2008, pp. 253-273.


[1] Mestre e doutora em psicologia pela Universidade de Brasília (UnB) na área de psicologia organizacional e do trabalho. Professora adjunta I da Universidade Federal de Juiz de Fora, Departamento de Psicologia. Endereço: Rua Barão de Cataguases, 95, ap. 201, Centro — CEP 36015-370, Juiz de Fora, MG, Brasil. 

[2] Mestre e doutor em sistemas instrucionais pela Florida State University, Tallahassee, EUA e pós-doutor pela International Food Policy Research Institute, I.F.P.R.I., Estados Unidos, pela University of Sheffield, Sheffield, Grã-Bretanha e pela Rijksuniversiteit Gröningen, RUG, Holanda.
Professor titular da Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Social e do Trabalho. Endereço: Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Social e do Trabalho. Campus Darcy Ribeiro, ICC/Ala Sul Asa Norte — CEP 70910-900, Brasília, DF, Brasil.



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